A Lagoa da Pederneira "era um extenso lençol de águas quietas, abrigadas, muito viscosas" representando para as populações das suas margens uma fonte de riqueza deveras importante. A Lagoa aparece referenciada numa carta romana como seno petronero tendo toda a sua orla sido povoada desde os tempos pré-históricos.
A Lagoa, durante os séculos catorze e quinze, devido à desflorestação das encostas, em seu torno e nas bacias hidrográficas dos rios que aí desaguavam, sofreu um progressivo e profundo assoreamento que levou por vezes ao encerramento da barra, causando a morte das abundantes espécies de peixes e de moluscos que durante séculos alimentaram as populações da região. A barra situava-se no local hoje denominado Pontes da Barca, a sul da Nazaré . No início do século dezassete a Lagoa acabou por desaparecer quase por completo, dando lugar a pântanos e sapais. Das obras de drenagem efectuadas pelos monges de Alcobaça nestes terrenos resultantes do recuo das águas, surgiram os férteis campos aluviais da Maiorga, da Cela e de Valado dos Frades.
João Oliva Monteiro, Actas das I Jornadas sobre Cultura Marítima, Nazaré, 1995
Campos Agrícolas do Valado
Foi a partir das obras de drenagem da Lagoa da Pederneira iniciada pelos monges de Cister de Alcobaça , e terminadas pelo Estado Novo nos anos 50 do Séc. XX, com pequena barragem no rio dos Outeiros (Alcôa) e com a construção de canais de rega nos campos os terrenos melhoraram.
A agricultura de regadio começou a desenvolver-se no Valado com a Quinta do Campo dos monges de Cister de Alcobaça .Com a revolução Liberal e a passagem da Quinta para particulares, os novos prorietários começaram a vender parcelas a pequenos agricultores Valadenses. A cultura do arroz ,o cultivo de árvores de fruto (pereiras e macieiras) e cenouras ,criaram riqueza nos agricultores ,que foram comprando os terrenos, e a partir dos anos 70 compraram a quase totalidade das terras da Quinta do Campo.
Fotografias de Trabalhos Agrícolas no Valado
Rodeado por enorme extensão de Pinhal das Matas Nacionais, o Valado sempre esteve ligado á silvicultura.
Fotografia de 1930, o mestre Lopes observa dois serradores a cortar uma árvore, com um serrote manual.
Na década de 30 em valado dos Frades grupo de trabalhadoras das matas Nacionais do pinhal de Leiria, com os seus cestos de trabalho posam para a fotografia antes de mais uma jornada de trabalho, também dois guardas florestais que super entendiam o trabalho.
Fotografia provavelmente dos anos 30, dois Valadeiros à saída do pinhal com o carro de bois carregado de aguilhota, o carro de bois da primeira geração destes carros é quase todo feito em madeira, as rodas ainda sem raios e o eixo do carro são em madeira,por baixo do carro vai a almotolia do azeite que servia para lubrificar o eixo, os homens de barrete preto da época, levam varas para conduzir os animais e um deles tem uma bilha de barro, provavelmente para a água.
Na década de 40,quase todo o trabalho no pinhal de Leiria era feito por trabalho braçal,na foto um grupo de mulheres do Valado,num intervalo durante os trabalhos de limpeza e sementeira do pinhal.
Grupo de mulheres do Valado equipadas com ancinhos para a limpeza e sementeira do pinhal nos anos 40.
Grupo de homens do Valado trabalhadores das matas nacionais,em trabalhos de construção de estrada rural no pinhal,anos 40
Fotografia dos anos 30 no pátio da Quinta do Campo, dois guardas das Matas Nacionais, mestre Lopes á esquerda e um outro guarda perfilados para a foto.
Os guardas florestais que prestavam serviço na mata do Valado são, José Palmeiro,José Lopes, J.Viola, e Feliciano Nascimento. Naquela data o Mestre Florestal era António Silva Lopes " O Mestre Lopes" .
Nos aos 40,dois trabalhadores das Matas Nacionais, Olivier e Valentina, semeando penisco no pinhal perto do Valado,o pinhal de Leiria tem mantido a sua grande dimensão,porque ainda hoje sempre que se faz um corte de árvores é feita uma nova sementeira de seguida.
Mata Nacional de Leiria ou Pinhal do Rei é uma floresta portuguesa. Tem 1741 km quadrados, nos concelhos da Nazaré, Alcobaça, Marinha Grande, Leiria, Batalha e Porto de Mós.
Em Portugal, o pinhal de Leiria marcou o início da plantação intensiva de monocultura do pinheiro bravo.
O pinhal foi inicialmente mandado plantar pelo rei D. Afonso III (e não por D. Dinis ) no século XIII, com o intuito de travar o avanço e degradação das dunas, bem como proteger os terrenos agrícolas da sua degradação devido às areias transportadas pelo vento. Outros atribuem o começo da plantação do pinhal a D. Sancho II. Seria então mais tarde, entre 1279 e 1325, aumentado substancialmente pelo seu filho, o rei D. Dinis, para as dimensões actuais. Sempre que se procedia ao corte de árvores, esta era seguida de uma replantação - desta forma o pinhal manteve-se intacto.
O pinhal de Leiria foi muito importante para os Descobrimentos Marítimos, pois a madeira dos pinheiros foi a usada para a construção das embarcações
Nas Matas Nacionais um grupo de trabalhadoras nos anos 50, equipadas com ancinhos de madeira preparam-se para juntar a aguilhota que depois será comercializada, as aguilhotas são as folhas dos pinheiros e eram utilizadas na cama dos animais.
Para além doutros serviços para que se aprestavam, tinha como principal objectivo neste Serviço a Limpeza e Prevenção dos Fogos !! ( Aguilhota ,Sama,Caruma,Picos)
são nomes que em várias Zonas dão ao que no Valado chamamos " AGUILHOTA"
Três entre muitas Valadeiras que durante muitos anos andaram na limpeza do Pinhal,Maria, Valentina e Alda
Fotografia dos anos 60, já no fim da actividade de resinagem nos pinhais do Valado, na foto um resineiro descasca um pinheiro com um machado próprio e coloca um cadinho em barro para apanhar a resina, por vezes em árvores de maior porte eram colocados mais de 5 cadinhos.Ao fim de alguns meses e depois de cheios de resina os cadinhos eram substituídos, e levados para fábricas como uma que existiu no Valado para a resina ser separada nos diversos produtos comercializáveis como por exemplo a águarras, pez louro ,tintas , colas etc.
A resinagem é a actividade de extracção da resina ou goma resina em árvores vivas , no caso pinheiros, no Valado com a imensa mancha de pinheiros das matas nacionais a resinagem foi uma actividade com peso na economia local mas praticamente foi extinta nos anos 70, embora com a alta dos preços do petróleo possa a vir a ser retomada no futuro, até porque é ecologicamente sustentável.
Trabalhadores e proprietários anos 30
Entre estes Valadeiros estão Joaquim , José Pires" O Crespo" e o José "Nanas" . O que é engraçado , é que todos "ou quase "os trabalhadores estão descalços e com enxada ou cabaço às costas ou na mão e de camisa, todos eles de barrete , enquanto os agricultores proprietários estão calçados de casaco e chapéu na cabeça.Uma perfeita demonstração de classe social pelo vestuário e pelos utensílios de trabalho no inicio do Século XX. Tal como na média do País , provávelmente todos os trabalhadores eram analfabetos e alguns dos proprietários sabiam ler e escrever.
Fotografia dos anos 30, carros de bois carregados de feno a caminho das eiras.
Lavrar a terra com bois em 1940
Fotografia dos anos 40 arar e semear a terra com bois, Elsa Venâncio e Manuel Dias , num trabalho agricola de séculos só substituido pela mecanização dos campos.
È uma imagem quase desaparecida da nossa terra , com a mecanização dos campos os tractores foram remetendo para o esquecimento estes animais, estas alfaias agrícolas e as suas funcionalidades . È importante manter o registo fotográfico destas práticas de lavrar a terra com bois e com uma alfaia antiga.Esta foto foi tirada nos anos 40 nos campos do Valado junto ao Rio da Areia.
Mantear-Cavar a terra em manta
Um grupo de Homens e Mulheres do Valado nos anos 40/50 a cavar a terra em mantas trabalho extremamente duro,de grande esforço físico,que em Portugal só nos finais dos anos 50 ,começou a ser substituído por máquinas,devido á falta de mão de obra, muitas pessoas emigravam outras combatiam na guerra colonial.
Texto de Almeida Garrett - Viagens na Minha Terra
"pé na terra, tão depressa estamos a sachar o milho na charneca, como vimos ..... o mantear de algum pobre lorpa de algum. Sancho! Sancho, ..."
Fotografia do Verão de 1956, tirada por um turista Francês, que muitos anos mais tarde a fez chegar ao Valado através de um emigrante Valadense. Na foto no alto da Pederneira ,Mauricito ao comando do carro de vacas que transportava uma pipa de vinho desde a casa de Mauricio Santos até à Nazaré.Como ficariam hoje contentes os ecólogistas com este tipo de transporte ,em que o combustível era erva, e producto transportado era produzido só a 5 Km.
Fotografia dos anos 50, a caminho do campo Júlia Leonor "do Raimundo" acompanhada pelas netas à saida do Valado provávelmente a caminho dos campos.
Fotografia de um turista Francês em 1956 ,na estrada nacional que liga o Valado a Alcobaça, em frente dos pinheiros mansos, naquele tempo o transito era pouco,um carro de bois, uma bicicleta o carro do turista e o motivo da paragem, a mulher do Estreito, com a burra pela mão e nos ceirões , a Arcelina com o filho Carlos e a Judite filha da condutora da burrinha . Vão a caminho do campo ,Lezeirões
Nos anos 50/60 no Valado cultivava-se "muito" Arroz . Arraiais e Varzeas , foram os locais escolhidos para essa plantação .Na fotografia um grupo de mulheres prepara-se para iniciar a monda do arroz,devido á procura de mão de obra para os trabalhos no arrozais houve grande migração de homens e mulheres para o Valado ,mais estas que eles ,vindos da zona de Pombal , Louriçal etc. O Arroz no Valado acabou,vieram as cenouras, mas ficaram cá alguns homens, e muitas mulheres, cá fizeram a sua vida, construíram seus lares.
Em 1957, uma Valadeira "Santana",sentada na burra no regresso da venda na Nazaré
Praça de Alcobaça nos anos 50
Praça de Alcobaça nos anos 50
Nos anos 50 três fotografias do mercado de Alcobaça,ainda frente ao Mosteiro onde se podem ver alguns Valadeiros,as mulheres do Valado sempre venderam os seus produtos agrícolas neste mercado, onde eram bem identificadas pelas suas saias e seus aventais .
Na foto de 1957 Joaquina Coutinho dos Reis, vai para o campo montada num burro,com as duas filhas sentadas nos ceirões.
Fotografia dos anos 60, Álvaro Amado,aguenta o burro enquanto lhe tiram a foto,o menino na carroça está um pouco espantado
Fotografia dos anos 60, no páteo de casa Jaime Coito,segura uma junta de bezerros de vara em punho para os levar a beber água á pia.
Fotografia do inicio dos anos 60, Judite Calado leva os bezerros a beber na pia do gado, durante o século XX existiram várias pias publicas para dar de beber ao gado, a ultima das quais ainda existe, mas foi folcloricamente iluminada e transformada em fontanário nos anos 90.
As Vindimas
A debulha do Milho
No Valado existiam muitas Eiras, "DEZENAS"até aos anos 60, já que a agricultura Valadense era baseada na cultura dos cereais, milho e feijão especialmente,só a partir desta época é que os agricultores se viraram para a horticultura e Fruticultura.Na fotografia três jovens MªCarlota.Jesuina e MªAlice com as espigas de milho aos seus pés,posam para a fotografia na eira da Ana Barrela,tendo como fundo a eira do Peixe-Pão que ainda hoje existe.
Desenho de Joaquim Pica Pau representativo da debulha do milho numa Eira
Em 1965 na eira debulha e ensaque do milho,A. Condeixa, Maria Salgadinho,M. Condeixa, Joaquim Conde, Manuel Calado "Pirralhito".
O milho (Zea mays) é um conhecido cereal cultivado em grande parte do mundo. O milho é muito utilizado como alimento humano ou ração animal, devido às suas qualidades nutricionais mas também para produzir bio-diesel.
Todas as evidências científicas levam a crer que seja uma planta de origem americana, já que aí era cultivada desde o período pré-colombiano. É um dos alimentos mais nutritivos que existem.
Tem um alto potencial produtivo, e hoje cultiva-se com elevada tecnologia incluindo modificações genéticas. Seu cultivo geralmente é bastante mecanizado.
Em meados do século XX, o Moleiro Patareco,junto ao rio onde tinha o moinho, carregado com dois saquinhos de farinha prepara-se para percorrer mais de um Km que o separava do Valado, para vender a farinha.
José Jordão " O Ti Zé Patareco" É descendente de uma das Famílias mais antigas do Valado.
A cultura das cenouras
Fotografia dos anos 70, a apanhar cenouras nos Brejos na foto: Lili , José Jacinto, Helena ,Joaquim Ferraz.
Fotografia dos anos 70, no auge do cultivo de cenouras no Valado, as cenouras eram lavadas á mão em poceiras de verga como mostra na foto, e depois ensacadas no caso em sacos de ráfia plástica, mas nos primeiros tempos eram ensacadas em sacos de serapilheira. A grande maioria das cenouras era enviada para os mercados da Ribeira e Rego em Lisboa, outra parte era vendida nos mercados regionais, até aos anos 80 saiam do Valado três camionetas diariamente carregadas de cenouras.Depois os preços baixaram os campos tornaram-se improdutivos devido á monocultura intensiva e ao excesso de químicos.Nos dias de hoje já se produzem poucas cenouras no Valado.
Fotografia de 1971 nas águas límpidas do Rio do Peça "Águas Belas" a Helena Moreira e o Joaquim Ferraz lavam as cenouras .As Pedras das mós de moinho ali ao lado aguardam a chegada das Lavadeiras de roupa .
Grupo de mulheres a mondar cenouras nos Brejos nos anos 80, no Valado a cultura das cenouras teve grande actividade entre os finais de 60 e os anos 90, daqui saiam diariamente dezenas de toneladas de cenoura, essencialmente para os mercados de Lisboa e Coimbra.
A Fruticultura
Rancho de trabalhadores num intervalo da apanha de pêra rocha num pomar do Valado nos anos 60
A pêra-rocha é uma variedade de pêra, originária da região do Oeste, em Portugal. A pêra-rocha-do-oeste é uma Denominação de origem protegida. No Brasil ela é conhecida como pêra portuguesa Em 1836, foi identificada em Sintra, na propriedade de Pedro António Rocha, uma pereira diferente, com pêras de qualidade invulgar, a Pêra-rocha do Oeste, é uma variedade portuguesa concentrada na região do oeste.
Fotografia dos anos 70, nos campos do valado um grupo de mulheres a apanhar peras nas Valas .Na foto Maria Calora,Valentina ,? Célia ,Fernanda e Alda da Cruz .
A cultura da batata
Fotografia dos anos 70 , nos campos do Valado apanha manual de batatas por um grupo de pessoas, nos dias de hoje a apanha de batatas é quase sempre mecanizada.
Fotografia dos anos 70, deve ter sido grande ano de batata, pelo estendal de batatas,quase se não vê terra . A família Moreira e Ferraz em grande azáfama ,mas valia a pena.Até aos anos 80 a maior parte da batata cultivada em Portugal era desenterrada à enxada , depois apanhada à mão e ensacada
como podemos ver na foto, nos dias de hoje com pequenas excepções toda a sementeira e apanha de batatas é mecanizada.
Nos campos do Valado carregando caixas de batatas para um carro de vacas ,ainda de rodas de madeira, por cima das batatas ia o pasto para os animais,como era ecológico o mundo há 30 anos atraz, fotografia dos anos 70
As Abóboras
A Casa Romão com seus produtos horticolas, abóboras ,nabos, que estão preparados para ser vendidos a favor da Igreja em 1987.
António Romão na presença do Pedro Abegão, Benjamim , Hélder , Manelito Calado e outros exibe um dos símbolos da agricultura Valado a Abóbora .
Nos anos 60, Petronila Ramos " Cuca " e Maria Alhadas " Calminhas " posam para a fotografia ,com a respectiva vaquinha . Lá iam a caminho do campo . Vida dura a vida na agricultura.
Fotografia dos anos 80, junto á actual rotunda do agricultor,António Varela " Paulito", no carro sua Mulher Santana, e a filha Maria .
A pecuária Familiar
Nos quintais das casas agricolas da nossa terra era quase sempre lugar comum o que esta foto nos mostra, uma porca parideira com filhos, um cão e umas aves ,e os donos desses animais estavam sempre por perto para os tratar e vigiar . Na fotografia dos anos 70 a Ti Idalina e a Alda.
Trabalhos agrícolas
O Zé Caté com o Pedro Alhada ao lado, coduz a Vaquinha, e no cimo da Carrada de Feno,vai a Mulher do Zé . Foto anos 90
Fotografias de 1992 ,há muitos anos que os motores de rega tinham substituído esta árdua tarefa agrícola, que consiste em elevar água para rega dos campos, com ajuda de um cabaço e muita força nos braços. Mas o Zé Freitas e o Joaquim Pica-Pau foram bater água a cabaço e como mandam as regras á moda antiga.
A tarefa repete-se durante algumas horas ,sem desfalecimentos,enquanto o couval não fica regado
Durante esse batimento a sede aperta e vai-se assobiando ,as goelas secam e é preciso molhar a palheta. Dantes era assim,as águas eram puras,agora já não se pode beber a água dos Ribeiros que estão poluidas
.Quem prefere o vinho bebe um golo pelo Pirolito de madeira á moda antiga, os pirolitos de madeira deixaram de acompanhar os trabalhadores rurais para os campos nos finais dos anos 60 sendo subtituidos por garrafões de vidro empalhados.